Robin Wright e Olivia Cooke em um Duelo de Gigantes na Prime Video
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Recém-chegada à Prime Video, a minissérie “A Namorada Ideal” vai te grudar no sofá e não vai te deixar sair dali enquanto não chegar ao final. Este thriller psicológico meticulosamente produzido explora o instinto primordial de proteger aqueles que amamos – um sentimento que, embora devesse ser um porto seguro, rapidamente se transforma no território mais perigoso e moralmente cinzento da alma humana. A trama finca suas raízes nesse vulcão adormecido de possessividade e medo, florescendo como uma das narrativas mais envolventes do streaming atual.
Logo de partida, a série nos apresenta a Laura Sanderson, vivida com ferocidade contida por Robin Wright. Ela é uma galerista de arte bem-sucedida, dona de uma vida londrina aparentemente impecável, até que o seu filho Daniel apresenta Cherry, sua nova e misteriosa namorada, interpretada por uma Olivia Cooke magneticamente ambígua. O que se desenrola a partir daí é um jogo de xadrez psicológico, onde a pergunta crucial paira como uma névoa densa: Cherry é uma oportunista perigosa ou Laura é uma mãe paranoica e controladora? A verdade, como a série explora com maestria, é uma faca de dois gumes, um jogo de perspectivas onde a inocência e a culpa parecem dançar um balé sinistro.
O grande trunfo da produção reside, sem dúvida, no duelo elétrico entre suas duas protagonistas. Robin Wright entrega uma performance multifacetada, alternando com genialidade entre a mãe amorosa e a mulher obcecada e tóxica, numa atuação tão convincente que nossa simpatia por ela oscila a cada episódio. Do outro lado do ringue, Olivia Cooke é cativante e magneticamente ambígua, transmitindo com perfeição a vulnerabilidade e a ambição de uma jovem de origens humildes tentando se infiltrar num mundo de riqueza inatingível. A química antagônica entre as duas é o motor pulsante da série; suas cenas juntas são carregadas de uma tensão quase insuportável, de subtexto e um conflito psicológico que é tanto sutil quanto explosivo.
A narrativa inteligente frequentemente nos mostra os mesmos eventos sob os olhos de Laura e depois de Cherry, uma técnica que aprofunda a complexidade dos personagens – mostrando que nenhum deles é totalmente inocente ou culpado – e cria um suspense constante, desafiando o espectador a questionar incessantemente em quem acreditar. A direção, elegante e atmosférica, utiliza cenários luxuosos, como iates e galerias de arte, para contrastar de forma brutal com a escuridão psicológica que permeia a trama.
Mas “A Namorada Ideal” vai além do simples thriller. Ela mergulha em águas profundas, explorando temas como o luto e o trauma – o passado de Laura, que perdeu uma filha, alimenta sua relação obsessiva com o filho sobrevivente –, a desigualdade de classe, que amplifica o conflito através do abismo social entre as duas mulheres, e os limites do amor materno, que pode se tornar possessivo e destrutivo.
É uma série viciante repleta de reviravoltas e tensão crescente, mas é elevada pela qualidade das atuações e pela inteligência do roteiro. Ela não tem medo de ser desagradável e sombria, mas faz isso com um estilo e uma classe que a tornam irresistível. Se alguns personagens secundários podem parecer um pouco unidimensionais, servindo mais como alavancas para o conflito central, ou se existem pequenas conveniências narrativas, são pecados veniais facilmente perdoados diante do ritmo implacável e do entretenimento de alto nível oferecido.
Baseado no livro de Michelle Francis, “A Namorada Ideal” é, em suma, um thriller psicológico perfeitamente bem-executado. Um duelo de gato e rato entre duas personagens complexas e magnificamente interpretadas, para quem aprecia um suspense adulto, inteligente e cheio de nuances. A química entre Robin Wright e Olivia Cooke, sozinha, já vale a maratona. Prepare-se para devorar os seis episódios de uma só sentada.
Adriana Maraviglia
@revistaeletricidade