O Telefone Preto 2: Stephen King não errou no elogio

O Telefone Preto 2 – foto: Reprodução

Em um raro elogio que vale ouro no mundo do terror, Stephen King, o mestre do horror, não poupou adjetivos para a sequência baseada no conto de seu filho, Joe Hill: “Não é tão bom quanto o primeiro. É MELHOR”.

O Telefone Preto 2, que estreou nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (16/10), assume o desafio de continuar uma história que parecia bem resolvida e, para surpresa de muitos, não apenas justifica sua existência, como apresenta soluções inteligentes para reacender a chama do medo. Sob a volta do diretor Scott Derrickson, a sequência avança a trama quatro anos no futuro, explorando de forma corajosa e visceral o peso do trauma que persegue os irmãos Finney e Gwen, e expandindo o universo sobrenatural de uma maneira que, embora não seja perfeita, é cheia de personalidade.

A boa solução de enredo começa pela honestidade com o passado. A trama não ignora os eventos traumáticos, mas os usa como alicerce para o desenvolvimento dos personagens. Finney (Mason Thames), agora com 17 anos, tornou-se um valentão na escola, descontando sua raiva e medo incontrolável em brigas, enquanto tenta, de forma frustrada, anestesiar seus fantasmas interiores. Paralelamente, é Gwen, com seus 15 anos, quem assume o verdadeiro protagonismo desta vez.

Seu dom sobrenatural se intensifica, e são as suas premonições — visões de três garotos sendo perseguidos em um acampamento de inverno chamado Alpine Lake — que colocam a trama em movimento. Essa mudança de foco é um acerto notável, pois permite que o filme explore um novo ponto de vista emocional e espiritual, com Madeleine McGraw entregando uma atuação sensível e poderosa que se torna o coração da narrativa .

A continuação também demonstra criatividade ao transformar a própria natureza da ameaça. Com o Sequestrador fisicamente morto, a solução foi aprofundar-se no plano espiritual, transformando-o em um fantasma vingativo e consideravelmente mais poderoso. Ethan Hawke retorna com a mesma intensidade assustadora, mesmo como uma assombração, que opera através dos sonhos, uma clara e declarada inspiração na franquia A Hora do Pesadelo. Embora essa referência possa soar como falta de originalidade para alguns, ela serve a um propósito narrativo claro: elevar as apostas, já que o inimigo não está mais confinado a um porão, mas pode atacar suas vítimas em qualquer lugar, a qualquer momento, no terreno mais íntimo e vulnerável — a mente.

Derrickson reforça essa atmosfera onírica com uma linguagem visual ousada, utilizando sequências em película Super 8 com textura granulada e cores saturadas, evocando o terror dos anos 1970 e criando uma sensação analógica e desconfortável que distingue o filme visualmente .

Apesar dos muitos acertos, a sequência tropeça em sua ambição de explicar demais. Se a força do original estava na sugestão e no que era deixado nas sombras, O Telefone Preto 2 às vezes tenta justificar a origem sobrenatural do Sequestrador e detalhar as regras do “outro lado”, o que pode, para parte do público, quebrar o mistério e diminuir um pouco o impacto do medo inexplicável que definia o vilão.

Além disso, a mudança de cenário do porão claustrofóbico para um acampamento de inverno amplo e aberto, embora crie uma atmosfera diferente de isolamento, tira parte da angústia sufocante que era a marca registrada do primeiro filme. No final, O Telefone Preto 2 é uma continuação corajosa e emocionalmente ressonante. Ele entende que o verdadeiro horror não está apenas no susto momentâneo, mas no trauma duradouro e na luta incessante para superar os fantasmas do passado.

Honrando o espírito do original enquanto o expande de forma criativa, o filme atende a ligação e entrega uma experiência assustadora e satisfatória.

Adriana Maraviglia
@revistaeletricidade

Assista ao trailer de “O Telefone Preto 2”:

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