Rainha do Baile: O novo Rua do Medo não merece a coroa
|
A Netflix expande o universo de Rua do Medo com A Rainha do Baile (2025), quarto filme da franquia baseada nos livros de R.L. Stine. Desta vez, a história abandona a narrativa épica da maldição de Shadyside para entregar um slasher autônomo ambientado em 1988 – uma jogada arriscada que, infelizmente, resulta em um filme mais preocupado em replicar clichês do que em honrar o legado da trilogia original.
Dirigido por Matt Palmer, o filme tenta capturar a essência dos slashers da era VHS, mas tropeça no equilíbrio entre nostalgia e originalidade. A premissa é familiar: um assassino mascarado elimina candidatas ao título de rainha do baile em Shadyside High, enquanto a protagonista Lori (India Fowler) e sua melhor amiga Megan (Suzanna Son) tentam sobreviver. A trama até insinua ligações com a família Fier em uma cena pós-créditos, mas a conexão é tão frágil que parece um aceno desesperado para justificar que ele seja um novo capítulo da franquia.
O thriller acerta em detalhes pontuais: a trilha sonora, repleta de hits como White Wedding (Billy Idol) e Sweet Dreams (Eurythmics), é um deleite para os fãs da década. Suzanna Son, como Megan, destaca-se com uma performance carismática, trazendo nuances a um elenco repleto de estereótipos (a “nerd”, a “valentona”, a “popular manipuladora”). As cenas de morte também têm momentos criativos – um assassinato com cortador de papel é visceral, mas logo é prejudicado por efeitos especiais artificiais que quebram a imersão.
A Rainha do Baile sofre de uma identidade confusa. Tenta evocar clássicos que fizeram muito sucesso explorando o cenário sempre explosivo de competição do ensino médio norte americano e, para quem conhece um pouco do assunto, logo reconhecerá detalhes de “A Garota de Rosa Schocking” (1986), “Carrie” (1976), com “Meninas Malvadas” (2004) e até com o maravilhoso mas pouco lembrado “A Morte Convida Para Dançar” (1980), um slasher convencional, mas não consegue se comprometer com nenhum desses tons. O roteiro, assinado por Palmer e Donald McLeary, oscila entre diálogos forçados e reviravoltas previsíveis, especialmente na revelação do assassino – um desfecho que tenta emular a complexidade da trilogia original, mas falta impacto emocional.
A direção também peca na construção de tensão. Enquanto Rua do Medo: 1978 brilhava em sequências de perseguição claustrofóbicas, aqui as cenas de terror são editadas de forma truncada, com cortes rápidos que escondem mais do que mostram. Até a violência, marca registrada da franquia, parece amortecida pelo excesso de CGI – um contraste gritante com os efeitos práticos cruéis de 1994.
Para fãs casuais de slashers, Rainha do Baile pode funcionar como entretenimento descartável, mas dificilmente deixará marcas. É um filme que parece ter sido montado em linha de produção: cumpre o básico (sangue, gritos, um vilão com máscara), mas não ousa inovar. Quando comparado à ambição narrativa da trilogia original – que entrelaçava séculos de história em um arco coeso –, este novo capítulo parece um retrocesso.
Dica: Assista primeiro à trilogia original (1994, 1978, 1666) e, se sobrar tempo, dê chance a Rainha do Baile – mas vá sem esperar muito.
Adriana Maraviglia
@revistaeletricidade
Assista ao trailer de “Rua do Medo: Rainha do Baile”: