A Melhor Irmã: O Brilho das Atuações Eleva um Thriller Familiar
|
Na grade da Prime Video, A Melhor Irmã parte de um terreno já bastante explorado em thrillers que se ambientam nos cenários frequentados pela elite: um assassinato desenterra segredos sombrios em uma família abastada. A premissa, adaptada do best-seller de Alafair Burke, pode até soar familiar, mas encontra sua força única não na inovação da trama, mas no poder magnético das interpretações do seu elenco principal. Aqui, Elizabeth Banks brilha com uma atuação que redefine sua carreira, enquanto Jessica Biel solidifica sua maestria no gênero.
A história gira em torno de duas irmãs separadas por escolhas e cicatrizes do passado. Chloe (Jessica Biel) personifica o sucesso: uma editora de renome com uma vida aparentemente perfeita na elite novaiorquina. Nicky (Elizabeth Banks), por outro lado, é seu oposto caótico, lutando contra demônios pessoais e uma existência à deriva. A morte violenta de Adam, marido de Chloe e ex de Nicky, força um reencontro tenso entre elas. Enquanto tentam navegar pelo luto e pela desconfiança mútua, o filho adolescente de Nicky, criado por Chloe, emerge como foco das investigações.
O roteiro, embora navegue por águas já exploradas por séries como Big Little Lies, destaca-se ao colocar o conflito fraternal no centro do drama. O assassinato serve mais como catalisador para expor anos de ressentimentos, inveja e feridas não cicatrizadas do que como mero mistério a ser solucionado. É nesse terreno emocional minado que as atuações florescem.
Elizabeth Banks, surpreendente e transformadora, rouba a cena como Nicky. Afastando-se dos papéis cômicos que a consagraram, ela mergulha na complexidade de uma mulher marcada pelo vício, pela culpa de ter abandonado o filho e por uma profunda inveja da irmã. Banks evita clichês, entregando uma performance intensa e visceral. Seu sarcasmo cortante, sua fragilidade exposta e sua raiva contida criam um personagem profundamente humano. A mera presença de Nicky na narrativa eleva o drama, introduzindo uma camada crua de desconforto e verdade emocional que transcende o suspense policial. Banks comunica décadas de dor e frustração com um simples olhar carregado ou um gesto impreciso, confirmando-se como o coração pulsante – e muitas vezes partido – da série.
Como contraponto necessário, Jessica Biel é a perfeição controlada de Chloe. Após consolidar-se em thrillers psicológicos, Biel domina a arte da contenção. Sua Chloe é ambiciosa, meticulosa e envolta em uma aura de frieza que poderia soar distante. No entanto, Biel humaniza-a através de fissuras sutis e eloquentes: um leve tremor nas mãos, uma pausa calculada antes de responder, um olhar que, por trás da fachada glacial, revela pânico. Sua frieza não é maldade, mas uma armadura cuidadosamente construída, e Biel mostra com maestria como essa proteção começa a rachar sob pressão extrema.
A dinâmica entre Banks e Biel é eletrizante. Nicky é o caos; Chloe, a ordem. Quando uma explode, a outra se retrai. Essa oposição gera confrontos memoráveis, onde palavras cortantes e silêncios eloquentes revelam feridas familiares com precisão devastadora. A química antagônica é tão palpável que mantém o espectador dividido entre torcer por uma reconciliação impossível ou testemunhar sua destruição mútua.
A direção de Craig Gillespie (Eu, Tonya) complementa as performances com um minimalismo sofisticado. Rejeitando a ostentação visual comum em narrativas sobre os ricos, ele opta por uma fotografia em tons frios e cenários impecáveis que espelham o mundo gelado de Chloe. Já as cenas de Nicky ganham uma câmera mais instável, refletindo seu turbilhão interior. Gillespie privilegia silêncios carregados e closes intensos nos rostos das atrizes, permitindo que a expressão fale mais alto que o diálogo.
Embora a minissérie não seja imune a falhas – a trama policial por vezes recai em convenções do gênero, seu verdadeiro triunfo está no drama humano. As reviravoltas podem até ser previsíveis para alguns, mas o foco inabalável no desenvolvimento das irmãs e em seu relacionamento tóxico compensa amplamente.
A Melhor Irmã é um thriller psicológico robusto cujo crime central não é o assassinato, mas as traições e os ressentimentos que corroem os laços familiares. Elizabeth Banks entrega uma performance de carreira, revelando uma profundidade dramática surpreendente. Jessica Biel confirma sua excelência no gênero. Juntas, transformam uma história de segredos e privilégio em um comovente estudo sobre perda, inveja e os laços indestrutíveis (ainda que dolorosos) do sangue.
Ideal para quem busca dramas familiares intensos com um toque de suspense, e especialmente para quem deseja testemunhar Elizabeth Banks em um papel que merece todos os holofotes. Assista menos para descobrir “quem matou” e mais para entender “como sobrevivem” quando o maior perigo vem de dentro de casa.
Adriana Maraviglia
@revistaeletricidade