Até a Última Gota: Um Retrato Cruel da Resistência Feminina nos Limites do Sistema

Até a Última Gota – foto: Reprodução

Dirigido por Tyler Perry e estrelado pela poderosa Taraji P. Henson, Até a Última Gota (2025) chegou à Netflix em 6 de junho como um dos dramas sociais mais urgentes do ano. Sem spoilers, este texto revela por que o filme é mais que entretenimento: é um espelho de fraturas sociais que precisam ser encaradas.

A produção do filme foi marcada por uma gravação relâmpago, com Taraji P. Henson filmando todo seu papel em apenas quatro dias, conciliando as gravações com a minissérie Fight Night: The Million Dollar Heist. Essa urgência na produção se reflete na intensidade da narrativa, sem comprometer a qualidade da atuação. Tyler Perry, conhecido por abordar temas como racismo e vulnerabilidade, escreveu o papel de Janiyah especificamente para Henson, afirmando que a personagem simboliza “milhões de pessoas que sentem estar na última gota de esperança”.

Henson entrega uma das performances mais viscerais de sua carreira. Como Janiyah, uma mãe solo lutando para cuidar da filha doente, ela transita entre fragilidade e ferocidade com maestria. Seus gestos, olhares e explosões contidas transmitem o esgotamento de quem enfrenta humilhações sistêmicas, evitando caricaturas e humanizando a dor. Em cenas de tensão extrema, como um cerco policial transmitido ao vivo, sua personagem não é retratada como vilã, mas como vítima de um sistema que a desumaniza.

O filme expõe falhas institucionais que empurram pessoas à marginalidade, destacando temas como pobreza estrutural, saúde e gênero. Janiyah enfrenta despejo, desemprego e burocracias financeiras em um único dia, ilustrando como a pobreza é um labirinto sem saída. A luta por tratamento médico para a filha revela a negligência do Estado com mães solo, especialmente negras, questionando até que ponto atos desesperados são respostas à ausência de apoio. Além disso, a espetacularização midiática do cerco policial critica a criminalização da dor negra e a rapidez em rotular lutas por sobrevivência como “crime”.

Nas redes sociais, o filme gerou forte impacto emocional, com espectadores relatando “choro incontrolável” e identificação com a realidade de mães solo. Frases como “mostra a força de quem a sociedade ignora” viralizaram. Enquanto o IMDb (5.2/10) aponta falhas no roteiro e atuações secundárias, muitos elogiam a “reviravolta que arranca o fôlego” e a crítica social “necessária”.

Até a Última Gota não é apenas um drama policial, mas um documento sobre resistência. Inspirado pela canção 20 Dollars, de Angie Stone, que retrata uma mãe em desespero, o filme dá rosto a estatísticas invisíveis, questiona noções de “justiça” e oferece empatia em tempos de polarização. Como disse um espectador no IMDb: “Não nascemos monstros; somos feitos por circunstâncias.”

Disponível na Netflix, este é um daqueles filmes que permanecem na mente muito depois dos créditos finais. Para Henson, já é considerado um marco. Para nós, é um convite a repensar quem realmente “quebra as leis” em uma sociedade desigual.

Adriana Maraviglia
@revistaeletricidade

Assista ao trailer de “Até a Última Gota”:

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