Ação e Pipoca: Tiro, Porrada e Bomba em “Chefes de Estado”
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Dirigido por Ilya Naishuller (“Hardcore Henry”, “Anônimo”), Chefes de Estado chega ao Prime Video como uma aposta clara em entretenimento de alto orçamento e baixa complexidade. O filme coloca John Cena (presidente dos EUA) e Idris Elba (primeiro-ministro britânico) em uma trama de conspiração global que exige que os rivais se unam para salvar o mundo. O resultado? Uma comédia de ação eficiente, repleta de clichês deliberados e química explosiva entre os protagonistas, mas que evita qualquer ambição satírica ou política relevante.
A dinâmica entre Cena e Elba é o motor do filme. Cena interpreta Will Derringer, um ex-astro de Hollywood eleito por carisma (não por competência), com um humor que beira o infantil e uma paixão por soluções explosivas. Elba, como Sam Clarke, é o contraponto sério e estratégico, carregando um passado militar e uma paciência esgotada. A fórmula “cachorro animado + gato rabugento” funciona, especialmente nas cenas de ação, onde o contraste entre os estilos de combate dos dois gera sequências criativas e viscerais. O diretor Naishuller, conhecido por seu estilo hipercinético, prioriza tiroteios práticos e coreografias brutais sobre CGI, um alívio em tempos de excesso digital.
“Chefes de Estado” é um tributo aos buddy movies dos anos 80/90, como “Dupla Explosiva” ou “48 Horas”, mas com orçamento contemporâneo. Merece um destaque especial a abertura no Festival Tomatino (Espanha) onde sangue e tomates se misturam com humor ácido. A trilha sonora, recheada de clássicos rock e eletrônicos, reforça o tom descompromissado. Apesar de violento, o filme evita o gore excessivo, optando por um ritmo ágil e piadas que, embora previsíveis, funcionam graças ao carisma do elenco.
Quem espera ver uma crítica à geopolítica atual sairá frustrado. As referências a MAGA, Brexit ou isolacionismo são superficiais e servem apenas como piadas descartáveis. Num momento em que filmes como “G20” (também da Prime Video) tentam equilibrar ação e discurso político, Naishuller escolhe o escapismo: “O objetivo é divertir, não servir para discussões acaloradas”, declarou o diretor. A vilania de Paddy Considine como um contrabandista russo é tão caricata quanto eficiente — um antagonista funcional, sem profundidade.
Priyanka Chopra Jonas, como a agente do MI6 Noel Bisset, brilha em cenas de ação, mas seu potencial dramático é desperdiçado. Carla Gugino (como a vice-presidente dos EUA) e Jack Quaid (um fã de Derringer na CIA) têm participações breves, mas memoráveis. Já a cena pós-créditos, com Randy Quaid, sugere uma franquia em gestação — um gancho ambicioso para um filme que sabe seu lugar.
“Chefes de Estado” não reinventa a roda, mas entrega exatamente o que promete: 2h de ação inventiva, bom humor e uma dupla protagonista irresistível. É puro cinema pipoca, ideal para quem quer desligar o cérebro e rir de tiroteios absurdos e frases de efeito. Nem arte, nem compromisso; apenas diversão rasteira e eficiente.
Adriana Maraviglia
@revistaeletricidade
Assista ao trailer de “Chefes de Estado”: