Keira Knightley brilha em “A Mulher na Cabine 10”, o novo suspense de luxo da Netflix

A Mulher na Cabine 10 – foto: Reprodução

Em meio à avalanche de produções originais que brotam nas plataformas de streaming como aquele matinho insistente que nasce nas frestas das calçadas depois da chuva, a Netflix aposta em “A Mulher na Cabine 10”, adaptação do best-seller de Ruth Ware, para provar que o suspense clássico ainda pode render boas ondas. Dirigido com precisão por Simon Stone, do maravilhoso “A Escavação, e estrelado por uma Keira Knightley em excelente forma, o filme navega por águas conhecidas — e justamente por isso, sabe onde quer chegar.

Desde os primeiros minutos, o clima é de tensão contida. Laura, a protagonista vivida por Knightley, é uma jornalista abalada por um trauma recente, que aceita cobrir uma viagem num iate de luxo em busca de ar fresco e um pouco de normalidade. Mas o que encontra é o oposto: um ambiente isolado, elegante até o excesso e povoado por personagens que parecem todos esconder algo. Quando ela acredita ter testemunhado um crime, o espectador é lançado junto com ela num turbilhão de dúvidas — o que de fato aconteceu? E, mais importante, podemos confiar no que ela viu?

Knightley entrega uma performance contida e precisa, deixando que o nervosismo e a fragilidade da personagem se revelem em gestos sutis. Não há heroísmo forçado — Laura é uma mulher real, quebrada e, por isso mesmo, convincente. É através dela que o roteiro, fiel ao livro sem ser refém dele, constrói um jogo de espelhos que mantém o público refém até o último ato.

O filme acerta ao entender o gênero que o inspira. Há ecos claros de Agatha Christie e Hitchcock na condução da narrativa, com aquele tipo de suspense que cresce devagar, em ritmo calculado, entre silêncios e olhares furtivos. O iate, cenário central da trama, não é apenas um pano de fundo luxuoso: é uma prisão dourada à deriva, onde cada camarote guarda um segredo e cada onda parece anunciar um novo perigo. A fotografia, em tons frios e contrastados, reforça a sensação de isolamento e desconfiança — como se o espectador também estivesse trancado ali dentro, à mercê da próxima revelação.

Sem se deixar levar por truques baratos ou reviravoltas gratuitas, “A Mulher na Cabine 10” aposta no velho e eficiente método de fazer o público duvidar de tudo. E acerta em cheio. O resultado é um thriller elegante, envolvente e meticulosamente construído, que prova que o verdadeiro suspense não está nos sustos, mas na arte de manter a respiração suspensa.

No fim das contas, é uma viagem perigosa, tensa e irresistível — e, como todo bom passeio de mistério, você desembarca com aquela deliciosa sensação de que o perigo pode ter ficado para trás… mas a desconfiança continua viajando com você.

Adriana Maraviglia
@revistaeletricidade

Assista ao trailer de “A Mulher na Cabine 10”:

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