Entre Curitiba e Nova York: a jornada da autodescoberta em “Traição Entre Amigas”

Traição Entre Amigas – foto: Orue Brasileiro

Chegando nesta quinta-feira (11/12) aos cinemas e dirigido por Bruno Barreto a partir do livro homônimo de Thalita Rebouças, “Traição Entre Amigas” é muito mais do que um simples drama romântico adolescente. É um delicado e sincero “coming of age” que utiliza uma traição no âmago de uma amizade sólida como o ponto de partida para explorar identidade, sonhos e a dolorosa, porém necessária, jornada de autodescoberta que marca a passagem para a vida adulta.

O filme acerta ao centrar sua narrativa no duelo entre duas melhores amigas, Penélope (Larissa Manoela) e Luiza (Giovanna Rispoli). A crise desencadeada por uma situação inesperada é crível e serve como um catalisador poderoso. A partir daí, a história se bifurca, acompanhando os caminhos separados de cada jovem. Em Nova York, Penélope não busca apenas o sucesso no teatro; ela se depara com a descoberta fundamental de sua sexualidade ao se envolver com Yana (Nathalia Garcia), em um arco de libertação e aceitação que é tratado com naturalidade e afeto. Enquanto isso, em Curitiba, Luiza navega as expectativas de um amor convencional com Gabriel (André Luiz Frambach), em uma contraposição que enriquece o tema central sobre os diferentes formatos que o amor e a realização pessoal podem assumir.

Bruno Barreto imprime uma narrativa clássica e fluida, dando espaço para as personagens respiraram. Sua escolha mais inspirada é transformar Curitiba em mais do que um pano de fundo; a cidade, com seus parques, arquitetura singular e atmosfera europeia, é quase um personagem melancólico e acolhedor que contrasta com a energia anônima e desafiadora de Nova York. Os cartões-postais são integrados de forma orgânica, refletindo o estado emocional de Luiza e sua conexão com a cidade que fica para trás quando a amiga parte.

O filme representa, de fato, um marco na carreira de Larissa Manoela. Longe dos registros puramente cômicos ou românticos infantojuvenis, ela enfrenta um espectro emocional mais complexo: a culpa, a desorientação, a descoberta do desejo e a saudade da amizade perdida. Seu desempenho é comprometido e convincente, sinalizando uma transição madura e bem-vinda. Giovanna Rispoli, por sua vez, é o coração do filme, transmitindo com nuance a dor da traição e a confusão de quem permanece no lugar conhecido enquanto tudo muda ao redor.

A adaptação de Thalita Rebouças ganha, nas mãos de Barreto, uma camada cinematográfica e um aprofundamento temático. O filme mantém o espírito e a acessibilidade da autora, mas não tem medo de ir além, assumindo ainda mais camadas, como parte natural da jornada de crescimento.

“Traição Entre Amigas” é, portanto, uma agradável surpresa. É um filme sobre perder e reencontrar — a si mesmo, antes de tudo. Supera as expectativas de seu gênero ao oferecer um olhar sensível e atual sobre a amizade feminina e os múltiplos caminhos da maturidade. Para o público de Larissa Manoela, é uma porta de entrada para narrativas mais complexas; para o cinema nacional, é um competente e comovente drama de formação que prova que histórias de transição para a vida adulta, quando bem contadas e representadas, têm um poder universal de ressonância.

Adriana Maraviglia
@revistaeletricidade

Assista ao trailer de “Traição Entre Amigas”:

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