Sorry, Baby – A Ascensão de Uma Nova Voz Feminina no Cinema

Com uma estreia na direção que já pode ser considerada histórica, Eva Victor se impõe como uma força criativa singular em “Sorry, Baby”. Mais do que a chegada de um novo talento, trata-se de um manifesto íntimo e corajoso, no qual Victor atua como protagonista, diretora e roteirista, entregando uma obra de rara autenticidade e dor palpável.

O coração do filme é a performance de Eva Victor como Agnes, uma jovem universitária cuja vida é atravessada por uma experiência traumática. Victor não interpreta Agnes; ela parece habitar cada fibra da personagem, em uma atuação que vai do silêncio ensurdecedor à fúria contida, passando por uma vulnerabilidade que corta a respiração. Não é à toa que a performance foi reconhecida com uma indicação ao Globo de Ouro de Melhor Atriz em Filme Dramático. Esta não é uma atuação que busca aplausos fáceis, mas sim uma imersão profunda e, por vezes, desconfortável, no processo de despedaçamento e lenta reconstrução de uma alma.

A direção, firme e sensível, reflete essa mesma perspectiva interior. Eva Victor opta por uma abordagem que privilegia a subjetividade de Agnes, usando closes que duram o tempo necessário para capturar um turbilhão de emoções e enquadramentos que isolam a personagem mesmo em meio à agitação universitária. A câmera é companheira do sofrimento, mas também da resistência, evitando o sensacionalismo e focando no impacto psicológico. O roteiro, também de sua autoria, é econômico e preciso, construindo a narrativa mais através das reações do que de longos discursos, o que torna a jornada ainda mais visceral.

“Sorry, Baby” é um estudo de personagem em sua forma mais pura e dolorosa. O filme se recusa a oferecer respostas fáceis ou um arco de redenção convencional. Em vez disso, investe na verdade fragmentada e não linear do trauma, mostrando os passos titubeantes de quem tenta seguir em frente carregando um peso invisível. Alguns podem achar o ritmo deliberadamente lento em momentos, mas é essa paciência que confere à narrativa sua profundidade e respeito pela experiência retratada.

O reconhecimento do filme já extrapola a indicação ao Globo de Ouro, com passagens e prêmios em festivais de cinema independente, que celebraram justamente sua ousadia formal e sua narrativa crua. “Sorry, Baby” não é um filme fácil, mas é um filme necessário. Anuncia o surgimento de uma voz feminina poderosa no cinema e oferece uma experiência cinematográfica que ressoa muito depois que as luzes se acendem. Uma estreia monumental.

“Sorry, Baby” chega aos cinemas nesta quinta-feira, 11 de dezembro.

Adriana Maraviglia
@revistaeletricidade

Assista ao trailer de “Sorry, Baby”:

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