Novo disco solo de Robert Plant traz o artista de volta para casa
|E finalmente chega daqui a poucos dias, mais precisamente no dia 09 de setembro, “lullaby and… The Ceaseless Roar”, o novo disco solo do cantor Robert Plant, estará nas lojas virtuais e físicas de todo o mundo.
Embora muitos de nós ainda tenhamos a impressão de que o ex-vocalista do Led Zeppelin passou os últimos anos apenas fugindo do assédio de Jimmy Page e de seu inquebrantável desejo de reformar a banda, com este novo trabalho, o músico prova que, na verdade, estava sim bastante ocupado.
Aliás nos anos que separam os dias de hoje do lançamento de “Band of Joy”, em 2010, muita coisa aconteceu na vida do cantor, além da turnê com a Band of Joy e depois de dizer que sua “fonte de inspiração” para novas composições tinha secado definitivamente, ele parece ter reencontrado novamente sua “musa” e ela o levou de volta para casa, depois de uma longa temporada nos Estados Unidos.
Desde que se reuniu com a Sensational Space Shifters, banda que passou a acompanhá-lo em 2012, o músico vem “cozinhando” este novo disco e “lullaby and The Ceaseless Roar”, o décimo de sua carreira, já parece para mim e para muitos críticos, o melhor de todos que já fez.
Cabe aqui explicar que a Sensational Space Shifters não é exatamente uma novidade na carreira de Plant, trata-se de uma nova “encarnação” para a banda Strange Sensation, que acompanhou Plant em dois momentos especialmente inspirados de sua história musical, os discos “Dreamland” (2002) e “Mighty Rearrenger (2005).
Da formação do Strange Sensation, os guitarristas Justin Adams e Liam “Skin” Tyson, o baixista Billy Fuller e o tecladista Jon Baggott receberam a adição do multiinstrumentista africano Juldeh Camara e do baterista Dave Smith.
Descrito por Plant nas muitas entrevistas que têm dado para divulgar o lançamento, como “um disco comemorativo, poderoso, corajoso, (onde o ritmo) africano e o trance encontram Led Zeppelin” o álbum tem 11 faixas que surpreendem e impressionam logo a primeira audição.
Mas talvez a melhor definição deste novo trabalho é a de que se trata de uma manifestação multicultural, o resultado da colaboração de músicos de origens variadas que se encontraram para criar a mesma música e fazê-la única, evocando as mais diversificadas referências, culturas e tradições, mas sem curvar-se ou privilegiar nenhuma delas.
“Little Maggie”, a faixa que abre o disco, é uma canção folk tradicional que já foi gravada por diversos artistas, mas que pela primeira vez é interpretada com o uso de um kologo, uma espécie de “violino” africano, tocado por Juldeh Camara, criando uma sonoridade única.
A primeira inédita do disco é “Rainbow”, a música também é a primeira a ser divulgada pelo cantor e já está tocando nas rádios, depois de ter sido devidamente incorporada a setlist dos shows que tem feito por aí, incluindo o prestigiado Festival de Glastonbury. Ela mostra Plant voltando à temática “hippie” que um dia ajudou a fazer a alegria dos fãs do Led Zeppelin e é uma mistura encantadora de sonoridades de diferentes origens e inclui a citação de versos de “Love is Enough”, de William Morris, um poeta da era vitoriana.
Quase no mesmo clima, mas com um pouco mais de ousadia, “Pocket Full of Golden” vem a seguir. Aqui cabe lembrar que quem produziu o disco foi o próprio Robert Plant e o fez com muita habilidade. Com uma banda com músicos experientes em World Music e muitos elementos diferentes para conciliar, seria muito fácil acabar cedendo aos excessos e terminar com um disco exagerado, mas a ideia do “menos é mais” venceu e sendo assim, o disco não conta com longos solos, nem exibições gratuitas de virtuosismo.
A próxima música do disco “Embrace Another Fall” deve provocar um “arrepio” nos fãs do Led Zeppelin. Evocando ainda mais claramente suas raízes celtas, Plant faz uma bela canção de amor. A letra é confessional e fala sobre o fim do relacionamento do cantor com Patty Griffin. Além disso, a música tem a participação da cantora celta Julie Murphy, cantando um trecho da música “Marwnad yr Ehedydd” (The Lark’s Elegy).
Também descrevendo “eventos reais” na vida de Plant, chega a vez de “Turn It Up”, com uma melodia que radicaliza mais ainda nos loops de “World Music”, tem uma letra que fala sobre as inúmeras viagens que o artista fez pelas estradas americanas, sempre com o rádio do carro ligado, ele percorreu muitas milhas, especialmente no Sul dos Estados Unidos, pesquisando, gravando e aprofundando-se na música que inspirou toda a sua carreira.
Mas nada é tão real, confessional e emocionante do que a baladona de piano “A Stolen Kiss”. Difícil é não se deixar levar pela beleza da canção que tem tudo para ser um novo clássico dentro da carreira de um artista que é um verdadeiro ícone do rock.
“Poor Howard” é outra canção tradicional gravada previamente por Leadbelly, um dos heróis de Robert Plant e representa mais uma boa escolha de cores da diversificada paleta que o artista assume.
E antes que os fãs se entristeçam com a aparente solidão daquele que um dia já teve o direito adquirido de chamar a si mesmo de “Deus Dourado”, ouçam “House of Love”, onde seu ótimo senso de humor se mostra ainda em ótima forma cantando de forma mais leve (e cínica) sobre o final de seu relacionamento.
“Up on the Hollow Hill (Understanding Arthur)” e “Arbaden (Maggie’s Babby)” voltam a explorar os loops e a pegada trance da banda.
Adriana Maraviglia
@drikared
Faixas de “lullaby… and the Ceaseless Roar”
1. Little Maggie
2. Rainbow
3. Pocketful of Golden
4. Embrace Another Fall
5. Turn It Up
6. A Stolen Kiss
7. Somebody There
8. Poor Howard
9. House of Love
10. Up on the Hollow Hill (Understanding Arthur)
11. Arbaden (Maggie’s Babby)
Confira vídeo com trechos de músicas de “lullaby… and the Ceaseless Roar”