Neve, Máscaras e Resistência: Por Que ‘O Eternauta’ é Mais Relevante do Que Nunca

O Eternauta – foto: Reprodução

A série argentina O Eternauta, disponível na Netflix desde 30/04, é uma adaptação grandiosa da icônica graphic novel de Héctor Oesterheld e Francisco Solano López, publicada originalmente em 1957. Dirigida por Bruno Stagnaro, a produção mergulha em um cenário apocalíptico que transcende a ficção científica convencional, explorando temas como resistência coletiva, sacrifício e a luta contra forças invisíveis.

Ambientada em uma Buenos Aires devastada por uma nevasca tóxica que mata instantaneamente, a história acompanha Juan Salvo (Ricardo Darín), um homem comum transformado em líder improvável. Sua jornada para encontrar a filha desaparecida serve como fio condutor para expor um quadro mais completo da tragédia que os sobreviventes enfrentam.

O roteiro moderniza a obra original, inserindo referências contemporâneas, como a experiência traumática da pandemia de COVID-19, que ecoa no isolamento e no uso obrigatório de máscaras. A escolha de transformar Salvo em um veterano da Guerra das Malvinas também acrescenta mais camadas psicológicas ao personagem.

Com um orçamento estimado em US$ 15 milhões, a produção impressiona pela reconstrução de uma Buenos Aires pós-apocalíptica. A neve tóxica, mais que um elemento visual, funciona como metáfora política — uma herança da graphic novel, que criticava o constante horror político na América do Sul e seus incontáveis e sangrentos Golpes de Estado.

A tecnologia StageCraft (a mesma de The Mandalorian) foi utilizada para criar cenários imersivos e muitos dos efeitos especiais que deram à atração um padrão de qualidade superior, quase de superprodução holywoodiana, um novo patamar para as produções latino americanas.

Stagnaro opta por um ritmo deliberadamente lento nos primeiros episódios, focando no desenvolvimento dos personagens e na atmosfera claustrofóbica. Essa escolha, embora gere críticas sobre a demora na introdução da ação, amplia a tensão psicológica, aproximando o trabalho a grandes sucessos como The Last of Us, onde o verdadeiro vilão é a desumanização em meio ao caos. A tensão é sustentada por diálogos que refletem dilemas morais e pela fotografia sombria, que transforma a cidade em um personagem silencioso.

Em um momento em que vivemos no mundo todo o risco que envolve o crescimento da extrema direita e onde as crises climáticas saídas de artigos científicos tidos como alarmistas se transformam diante dos nossos olhos em uma realidade de destruição, O Eternauta se torna mais do que simples entretenimento e passa a ser um alerta importante sobre o que pode estar nos esperando ali adiante. Entre extremismos e individualismo exacerbado, a série lembra que sozinho ninguém chega a lugar nenhum.

O Eternauta está disponível na Netflix, com seis episódios nesta primeira temporada. Uma segunda temporada já está em desenvolvimento.

Adriana Maraviglia
@revistaeletricidade

Assista ao trailer de “O Eternauta”:

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