Um carro. Uma armadilha. Nenhum escape: ‘Confinado’ leva o terror psicológico ao extremo
|
Chega amanhã, 29 de maio, aos cinemas brasileiros, Confinado, thriller psicológico dirigido por David Yarovesky (Brightburn: Filho das Trevas). Com Bill Skarsgård e Anthony Hopkins no elenco, o filme promete tensão claustrofóbica e um mergulho em dilemas morais sombrios, inspirado livremente em casos reais de justiça vigilante em Córdoba (Argentina, 2016) e nas versões anteriores 4×4 (2019) e A Jaula (2021).
A premissa é direta e cruel: Eddie (Skarsgård), um ladrão desesperado, vê num SUV de luxo estacionado a solução para seus problemas. Ao arrombá-lo, descobre que caiu numa armadilha tecnológica orquestrada por William (Hopkins), um justiceiro que transformou o veículo numa prisão móvel. O que se segue é um jogo de gato e rato, onde a sobrevivência exige enfrentar torturas físicas e confrontar o próprio passado, enquanto o filme questiona os limites da justiça e a violência de classe.
Yarovesky cria uma atmosfera visceralmente sufocante. Planos fechados nos rostos, ângulos distorcidos pelos vidros e uma trilha sonora minimalista mergulham o espectador na mesma prisão de Eddie. Recursos como câmeras de segurança e a central multimídia do carro dinamizam a narrativa, evitando a estagnação. No entanto, a repetição de sequências de tortura e uma certa perda de ritmo no segundo ato diminuem o impacto, justamente quando o conflito psicológico deveria atingir seu clímax.
As atuações elevam o material. Bill Skarsgård entrega uma performance física e emocionalmente crua – seu desespero transborda em suor, espasmos e gritos abafados. Mas é na jornada moral que ele brilha, transformando Eddie de um anti-herói cínico numa figura tragicamente humana. Anthony Hopkins, mesmo com pouco tempo de tela, domina com sua voz transmitida pelo sistema de som do carro, mesclando erudição e crueldade num vilão que evoca Hannibal Lecter.
O filme tenta debater ética e justiça, mas falha em aprofundar suas ideias. Diálogos filosóficos repetitivos (“O que você quer de mim?” / “Quero que você entenda”) não evoluem, e a crítica social sobre desigualdade fica na superfície. Hopkins monopoliza os discursos morais, enquanto Eddie reage com explosões verbais que, com o tempo, tornam-se exaustivas.
Confinado é um thriller competente, mas inconclusivo. Oferece tensão claustrofóbica eficaz e atuações poderosas – Skarsgård confirma seu talento para o gênero. Contudo, a repetição de cenas e a superficialidade no tratamento de suas temáticas mais ricas limitam seu impacto, tornando-o uma experiência mais adequada para streaming do que para a sala de cinema.
Adriana Maraviglia
@revistaeletricidade
Assista ao trailer de “Confinado”: