Uma Paris para dois em “French Lover”
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No cenário sempre ávido por novas comédias românticas, chega à Netflix “French Lover”, um filme que já nasce sob o signo da ambivalência: é um sucesso instantâneo nas paradas globais da plataforma, mas também se tornou alvo de críticas contundentes. Dirigido por Lisa-Nina Rives em sua estreia na direção e estrelado pelo carismático Omar Sy, a produção tenta transplantar a fórmula de “Notting Hill” para os cenários parisienses, com resultados que dividem tanto a crítica quanto o público.
A premissa é familiar: “French Lover” apresenta Abel Camara (Omar Sy), um ator francês de sucesso, famoso e cansado do brilho artificial de sua vida, que cruza com Marion (Sara Giraudeau), uma garçonete em meio a um divórcio complicado e lutando para manter seu apartamento. O encontro inicial é acidentado – ele é rude, ela é demitida como consequência –, mas um gesto de remorso de Abel os leva a uma jornada que questiona se o amor pode florescer sob os holofotes implacáveis da fama. O título, curiosamente, não se refere a um amante francês, mas a uma marca de perfume que o personagem de Sy promove no filme – um detalhe irônico que talvez resuma a desconexão entre as expectativas e a realidade que alguns críticos apontam.
O que funciona no filme é, sem dúvida, a dupla de protagonistas. Omar Sy empresta seu charme magnético e sorriso de milhões ao papel, tornando Abel Camara uma figura cativante, mesmo quando exibe seu lado mais arrogante e infantil. Como Marion, Sara Giraudeau oferece uma performance autêntica, atuando como a âncora de sensatez no turbilhão glamuroso de Abel. As cenas dos dois juntos, especialmente os longos embates de diálogo, são onde o filme realmente ganha vida. Para completar, Paris serve como um terceiro protagonista, com suas ruas e cafés acrescentando uma camada extra de romance à narrativa.
No entanto, a produção tropeça em aspectos fundamentais. O enredo é derivativo e segue uma fórmula excessivamente familiar; o New York Times chegou a descrevê-lo como “descaradamente derivado” de “Notting Hill” que perdeu grande parte do charme original. Com exceção de Estelle, a irmã de Marion (vivida por Agnès Hurstel), que rouba cenas com seu sarcasmo, muitos dos personagens de apoio mal registram na trama. Apesar da química geral entre os protagonistas, alguns revisores apontam que o filme perde identidade no caminho, deixando de lado subtramas interessantes e entregando um final que desaponta por abrir mão de elementos narrativos promissores.
Um aspecto notável é a camada de metalinguagem. “French Lover” mostra os bastidores do prestigiado cinema francês, as pressões por papéis sérios e a busca por reconhecimento. Em entrevista à Variety, Omar Sy comentou que o maior desafio foi encontrar o equilíbrio certo na autorreflexão: “Não ser muito duro conosco mesmos, mas, ao mesmo tempo, não ser muito bonzinhos também”. Esta é uma das facetas mais interessantes, ainda que não totalmente explorada.
O veredito final, portanto, depende das expectativas do espectador. “French Lover” funciona como entretenimento leve e descartável. Se o objetivo é passar duas horas com um filme que não exija muito, em um cenário bonito e com atores carismáticos, ele cumpre o papel. Contudo, para quem busca uma comédia romântica com originalidade, profundidade emocional e personagens bem desenvolvidos, provavelmente se juntará ao coro daqueles que o consideram uma oportunidade perdida. É um filme que “entrega os bens” para seu público-alvo, mas sofre com um pouco de falta de identidade para se destacar no mar de opções do streaming. A recomendação é assistir com expectativas ajustadas e deixar-se levar pelo charme de Sy e pelas paisagens de Paris – sem exigir muito mais do que isso.
Adriana Maraviglia
@revistaeletricidade